Padrão do Terrier Brasileiro

19/4/12
PADRÃO COMENTADO DA RAÇA

TERRIER BRASILEIRO(*)

 

GRUPO 3

Padrão FCI n° 341
04/06/1996
Padrão Oficial da Raça

TERRIER BRASILEIRO


CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE CINOFILIA
Filiada à Fédération Cynologique Internationale

Classificação FCI: Grupo 3


Terriers Seção 1 – Terriers de Grande e Médio Porte

Padrão FCI n° – 04 de junho de 1996

País de origem: Brasil


Nome no país de origem: Terrier brasileiro

Utilização: caça, guarda e companhia

Prova de trabalho: para o campeonato, independe.

Importante: O Padrão Oficial é o original em português. Os desenhos e os comentários foram feitos, apenas, para gerar uma facilidade.
Paulo José Ramos de Azevedo
Diretor Cinotécnico

Sérgio Meira Lopes de Castro
Presidente da CBKC
Impresso em: 25 de abril de 2001
(*) Elaborado por Celso dos Anjos e Mauro Prizibela
Revisado por Leyla Rebelo, Myriam Borba, Marina Lerario e Marcos Hotz
 

Sumário histórico: Os ancestrais do Terrier brasileiro não são originários do Brasil. No século 19 e começo do século 20, muitos jovens brasileiros estudavam em universidades européias, especialmente na França e Inglaterra. Estes jovens freqüentemente retornavam casados e suas esposas traziam com elas um cão pequeno do tipo Terrier. Os jovens brasileiros e suas famílias voltavam para as fazendas de onde tinham saído. O cãozinho se adaptou à vida das fazendas e acasalou-se com cães e cadelas locais. Assim, um novo tipo se formou e o fenótipo foi fixado em poucas gerações. Com o desenvolvimentos das grandes cidades, os fazendeiros, com suas famílias e empregados, foram atraídos pelos grandes centros urbanos. Desta forma o pequeno cão sofreu outra mudança de ambiente.

Comentário: No tocante a aspectos históricos, hoje admitimos que há fortes indícios de que efetivamente cães de tipo terrier, sem precisão de raça definida, viajavam como ratoneiros nos navios mercantes, principalmente nos ingleses, desde o século XIX. Se estima que tais cães teriam sido sido acasalados com outros cães autóctones e dado origem ao Terrier Brasileiro. Fenômeno semelhante é encontrado em outros continentes e em diversos países. Daí o Nihon Terrier no Japão, o Rat Terrier nos EUA, o Ratonero Bodeguero Andaluz na Espanha, os Foxters do Uruguay e Argentina, o Foxterrier do Chile, o Cão Sueco das Fazendas, etc… O Terrier Brasileiro foi adaptado tanto ao campo como ao meio urbano. No meio urbano teve a importante função de guardar as mercadorias dos armazéns da ação predatória de roedores e, no meio rural, também com eficiência, passou a desempenhar atividades de caça e, inclusive, a de boiadeiro junto aos rebanhos.

Aparência Geral: Cão de médio porte, esbelto, bem equilibrado, com estrutura firme mas não muito pesada, corpo de aparência quadrada com nítidas linhas curvas que o diferencia do retilíneo Fox Terrier de Pêlo Liso.

Comentário: O esbelto é aqui entendido como um cão não grosseiro, elegante e robusto. Não é um cão frágil. Entende-se corpo de aparência quadrada como um cão bem proporcionado, não pernalta e nem de pernas curtas, curvilíneo. Saliente-se que cão quadrado não é o cão pernalta e de dorso longo.

Comportamento/Temperamento: Incansável, alerta, ativo e esperto; amigável e gentil com amigos, desconfiado com estranhos.

Comentário: É um cão de alarme e se não for familiarizado com alguém, deverá se portar com reservas. Cães excessivamente tímidos ou agressivos não condizem com o que se espera da raça. O Terrier Brasileiro deve ser autoconfiante, corajoso, determinado, mas perfeitamente controlável por seus proprietários.

Cabeça: Vista de cima, a cabeça tem a forma triangular, mais larga na base, com orelhas bem afastadas, estreitando-se acentuadamente dos olhos até ponta da trufa. Vista de perfil, a linha superior é ligeiramente ascendente da ponta da trufa ao “stop”, principalmente entre os olhos, arqueando-se até o osso occipital.

Comentário: Deve ser uma cabeça de base larga, com masséteres bem desenvolvidos, boas bochechas. Há que lembrar que trata-se de um cão de caça. A proporção crânio/focinho é 1:1.

Região craniana:

Crânio: Arredondado com a testa ligeiramente plana. Suas linhas laterais, vistas do alto, convergem para os olhos. A distância do canto externo do olho à inserção das orelhas é igual à distância entre os cantos externos de ambos os olhos. O sulco sagital é bem desenvolvido.

Comentário: Visto de frente o crânio é arredondado, mas a testa é ligeiramente plana.

Stop: Pronunciado.

Comentário: O stop é pronunciado, mas não muito, e se caracteriza por uma elevação curta.

Região Facial:

Trufa: Moderadamente desenvolvida, de cor escura e narinas largas.

Comentário: A cor deve ser o mais escura possível segundo as variações de tricolor(preto, marrom e azul). Os exemplares azuis devem ter a trufa cinza escuro e não preta.

Focinho: Visto de cima forma um triângulo isósceles dos cantos externos dos olhos a ponta da trufa; forte e bem cinzelado abaixo dos olhos com declive na base do focinho, acentuando o stop.

Comentário: O focinho embora seja um triângulo isósceles, deve ser forte e de boa massa, bem cinzelado, dando a impressão de uma cabeça bem esculpida.

Lábios: Secos e firmes, o lábio superior ajusta-se sobre o inferior, cobrindo os dentes, permitindo fechar a boca completamente.

Bochechas: Secas e bem desenvolvidas.

Comentário: Sendo o Terrier brasileiro um cão de caça, deve ter bochechas bastante fortes, como dito anteriormente.

Dentes: 42 dentes, regularmente implantados e bem desenvolvidos, com mordedura em tesoura.

Comentário: A necessidade de boa dentição, completa e bem desenvolvida vem do fato de ser um cão de caça. A contagem dos dentes se faz necessária em julgamentos.

Olhos: Implantados eqüidistantes entre a protuberância occipital e a ponta da trufa, bem separados, a distância entre as duas pontas externas dos olhos é igual a distância entre a ponta externa do olho até a ponta da trufa. Moderadamente proeminentes, grandes e com sobrancelhas ligeiramente acentuadas . Arredondados, bem abertos, vivos, com uma expressão inteligente; tão escuro quanto possível. A variedade azul tem olhos cinza azulados; a variedade marrom tem olhos marrons, verdes ou azuis.

Comentário: A expressão arredondados não significar dizer que são amendoados. Não são saltados. Nos tricolores de preto devem ser o mais escuro possível quase pretos, não devendo ser castanho-claros ou cor de mel. Nos tricolores de marrom ou de azul, são registradas as tonalidades claras.

Orelhas: inseridas lateralmente, na linha dos olhos, bem separadas uma da outra deixando bom espaço para o crânio. De formato triangular com terminação em ponta; portadas semi-eretas, com a ponta dobrada voltada para o canto externo do olho. As orelhas não são operadas.

Comentário: A expressão mais correta é semi-caídas. A orelha deve dobrar-se no terço anterior. Não são desejáveis orelhas que dobram-se no 1/3 posterior. No geral tais orelhas ocorrem em cães de inserção de orelhas muito altas. É importante que o árbitro saiba reconhecer que as orelhas não devem ser excessivamente grandes e pesadas e nem pequenas em demasia. Posicionamentos indesejáveis de orelhas: em rosa, desarmônicas (uma bem posicionada e outra não), lateralizadas e tombadas rente à face.  As orelhas devem ter seu vértice apontando para o canto externo dos olhos.

Pescoço: De comprimento moderado, proporcional à cabeça, implantado harmoniosamente à cabeça e ao tronco. Bem definido e seco; com a linha superior ligeiramente curva.

Comentário: Geralmente a inserção do pescoço em relação ao tórax e cabeça deve ser muito suave, denotando profunda harmonia. O fato de ter uma linha superior ligeiramente curva não pode ser confundido com pescoço de cisne ou ovelha. Observe-se que os pescoços devem, igualmente estarem harmonizados com o dorso, devendo guardar proporção com o mesmo. Cães de pescoço curto devem ter dorso curto. Cães de pescoços mais longos, dorso mais longo.

Corpo: Bem balanceado, não muito pesado, de aparência quadrada com linhas curvas bem definidas.

Comentário: Corpo bem balanceado, devendo ser entendido que o Terrier brasileiro é cão de trabalho, de caça, devendo apresentar uma estrutura robusta, sem ser tosca. A expressão “Bem balanceado” não pressupõe uma estrutura leve.

Cernelha: Bem pronunciada e ligada harmoniosamente aos membros anteriores.

Linha superior: Firme e reta, ligeiramente ascendente da cernelha para a garupa.

Comentário: A partir da cernelha há um breve declínio e, a partir daí há uma leve ascendência em direção à garupa, sendo que desde então há uma suave e harmônica curva. Portanto, a linha superior do Terrier brasileiro não é uma reta paralela ao solo. É sempre importante lembrar que o Terrier brasileiro é um cão de linhas curvilíneas.

Dorso: Relativamente curto e bem musculado.

Comentário: Alguns cães tem apresentado dorsos por demais longos, vindo a coincidir com os exemplares chamados “extra-longos”. Os extra-longos tendem a ter linha superior descendente, o que é um defeito.

Lombo: Curto e firme, harmoniosamente ligado à garupa.

Comentário: O lombo é reto.

Garupa: Ligeiramente inclinada, cauda de inserção baixa. Bem desenvolvida e musculosa.

Comentário: Vista lateralmente, a garupa é arredondada, levemente inclinada e a cauda necessariamente tem inserção baixa. Vista de cima deve ser musculosa e harmoniosamente larga. Garupas que se curvam abruptamente (muito inclinadas) terminam por determinar caudas de inserção exageradamente baixas. Garupas pouco, ou nada inclinadas produzem inserção de cauda muito alta ou atipicamente alta.

Antepeito: Pouco pronunciado, moderadamente largo, permitindo movimento livre dos anteriores.

Comentário: Visto lateralmente é pouco pronunciado.

Peito: Longo e profundo, alcançando o nível dos cotovelos. O esterno se conecta a costelas bem arqueadas; estando na horizontal, o esterno é moderadamente arqueado.

Comentário: O peito deve ser efetivamente largo, oportunizando relativo espaçamento dos membros anteriores. Peitos não largos terminam por conferir frentes estreitas, de estética e funcionalidade indesejável, principalmente no que coincide com a pouca profundidade de peito, gerando verdadeiras “ângulos agudos” no desenho formado entre os braços e o peito.

Linha inferior e barriga: Ligeiramente curva, ascendente para os posteriores, mas não esgalgada como no Whippet.

Comentário: Linhas inferiores retas são igualmente indesejáveis. No geral os cães longos possuem tendência ao esgalgamento exagerado.

Cauda: Inserção baixa, curta, cortada na junção entre a segunda e terceira vértebras caudais.

Comentário: Em função das recentes legislações contra cirurgias mutilatórias em cães, e por solicitação da CBKC junto à FCI, a cauda do Terrier brasileiro pode permanecer inteira. No Brasil a cauda é usualmente cortada, não havendo mais delimitação do espaço intervertebral para a amputação, pela FCI. A cauda pode ser ausente de nascença, caracterizando os anuros, ou pode possuir algumas vértebras, caracterizando os braquiuros. Garupas que se curvam abruptamente podem determinar o mau posicionamento de caudas, caracterizando caudas de inserção demasiadamente baixa, prejudicando a estética do exemplar. A cauda natural não deve ultrapassar a linha do jarrete e poderá apresentar-se em “foice” curvada sobre o dorso, contrariando o que reza o Padrão.

Membros:

Dianteiros: Vistos de frente, retos, moderadamente afastados, mas alinhados com os posteriores que também são retos porém mais afastados.

Comentário: Os membros anteriores são retos e moderadamente afastados, nunca juntos demais, denotando falta de antepeito e largura de tórax.

Ombros: longos, angulados entre 110 a 120 graus.

Braços: Aproximadamente do mesmo comprimento que a escápula.

Cotovelos: Colocados junto ao corpo, no mesmo nível da linha inferior do peito.

Comentário: Os cotovelos trabalham rente ao corpo sem apresentação de “luz” entre estes e o tronco.

Antebraços: Retos, finos e secos.

Comentário: Quando fala-se em finos, quer-se dizer que são finos como a maioria dos terriers, o que não faz supor aparente fragilidade de estrutura óssea.

Articulação dos carpos (pulso, munheca): Angulação aberta.

Comentário: O Terrier brasileiro não deve lembrar a articulação dos Fox Terrier ingleses, com angulação de 90 graus entre os carpos e metacarpos.

Metacarpos: retos e finos.

Patas dianteiras: compactas, nem viradas para dentro nem para fora. Os dois dedos do meio são mais longos.

Comentário: A forma da pata lembra a “pata-de-lebre”.

Posteriores: Fortemente musculados, coxas bem desenvolvidas, pernas proporcionais às coxas. Jarretes altos com angulação obtusa.

Comentário: Como cão de caça deve ser um cão com ótimo trem posterior, bem musculado para que tenha ótima propulsão de arranque.

Coxas: Bem desenvolvidas e musculosas.

Joelhos: Angulação obtusa.

Pernas: proporcionais as coxas.Jarretes: altos de angulação obtusa.
Comentário: São bem aprumados.

 


Metatarso (quartela traseira): retos.

Patas traseiras: Compactas, mais longas que as dianteiras.

Comentário: É incorreto pensar que o Terrier brasileiro deve apresentar as angulações traseiras semelhantes as dos cães pastores. Note-se que em grande parte dos exemplares “extra-longos” é bastante alta a incidência de cães acentuadamente angulados. Por outro lado, em cães excessivamente curtos se têm-se observado, com relativa freqüência, “jarretes de porco”, ou seja, angulação insuficiente.

Passada/Movimentação: Elegante, livre, movimentação rápida e curta.

Comentário: A movimentação deve ser fluente, com passadas curtas e rápidas. Em função de sua pouca angulação de frente, assim como a maioria dos terriers, têm um andar picado. Não deve fazer ação alta nos anteriores (falso Hackney), nem tampouco Hackney.

Pele: Bem ajustada, não frouxa. Seca.

Pelagem:

Pêlo: Curto. liso, fino sem ser macio, bem assentado à pele, tipo pêlo de rato. Não se pode ver a pele através do pêlo. Mais fino na cabeça, orelhas, na parte inferior do pescoço, nas partes internas e inferiores dos membros e face posterior das coxas.

Comentário: Há cães que efetivamente apresentam uma pelagem mais tosca, densa,inclusive com registro de sub-pêlo, conferindo ao exemplar um aspecto mais grosseiro, principalmente quando abundam na região cervical e glútea, o que deve ser considerado mais como um sinal de primitivismo do que, propriamente, uma atipia.

Cor: Cor do fundo predominantemente branca com marcações pretas, azuis ou marrons; as seguintes marcações típicas e características devem estar sempre presentes: castanho acima dos olhos, em ambos os lados do focinho e na face interna e nas bordas das orelhas. Essas marcações podem se estender por outras regiões do corpo como transição entre o branco e o preto. A cabeça deve sempre apresentar marcações em preto, azul ou marrom na região frontal e orelhas; são admitidas faixas ou marcas brancas preferivelmente no sulco frontal e nas laterais do focinho, distribuídas o mais harmoniosamente possível.

Comentário: O Terrier brasileiro deve dar a impressão de que originalmente seria um cão branco, com marcações de “tan” nas laterais do focinho e sobre os olhos, em quem se jogou tinta. Se a tinta for preta se terá o tricolor de preto, se a tinta for marrom se terá o tricolor de marrom e se a tinta for de um cinza azulado se terá o tricolor de azul. Ainda que o padrão refira que o cão deve ser predominantemente branco, entende-se que os exemplares mantados não devam ser penalizados. O ideal é que as marcações tan sejam bem definidas nas laterais do focinho e nos catrolhos. A testa e orelhas devem ser escuros tanto quanto o resto da pelagem da 3ª cor (preta, azul ou marrom) . A presença do branco na face ainda que permitida segue o citado no padrão, o que daquela concepção fugir será tolerado, o que não significa dizer desejado. As ditas cabeças amarelas e a não demarcação dos catrolhos não são desejáveis. Marcas de “tan” isoladas no corpo caracterizam marcação atípica. Em alguns cães o tan poderá ser amarelado claro ou cor de areia, o que não é desejado. Nos exemplares azuis o tan costuma ser de menor intensidade. Em alguns cães o “tan” é de um amarelado claro ou cor de areia, o que não é desejado. Cabe igualmente o registro de possível presença eventual de um “salpicado’ ou “mosqueado”, de cor “tan” nos membros, principalmente nos dianteiros. Pode igualmente haver um “salpicado” de preto em regiões brancas do corpo.

Tamanho e peso: Altura na cernelha: machos de 35 a 40 cm fêmeas 33 a 38 cm.
Peso: 10 kg no máximo.

Faltas: Qualquer desvio nos termos deste Padrão deverá ser considerado como falta e penalizado na exata proporção de sua gravidade. São faltas:

-Falhas na estrutura
-Aprumos incorretos;
-Pelagem longa ou atípica;
-Falhas nas marcas características;
-Orelhas portadas eretas;
-Ombros muito pesados ou muito frágeis.

Faltas desqualificantes:

-Agressividade ou timidez excessivos;
-Garupa sem leve inclinação;
-Prognatismo superior ou inferior;
-Falta de harmonia, talhe atípico.

Nota: Os machos devem apresentar dois testículos aparentemente normais completamente acomodados na bolsa escrotal.

Comentário Final: O Padrão do Terrier brasileiro deverá ser rediscutido e submetido a uma revisão em momento oportuno. Em 2006, após 10 (dez) anos de registro provisório junto à FCI, a raça obteve seu reconhecimento definitivo, sem alteração no Padrão Oficial.